LIÇÃO 31: VERBOS AUXILIARES – 「れる」 E 「られる」

Nesta lição, abordaremos os verbos auxiliares  「れる」  e 「られる」  , que possuem várias funções importantes. Vamos a eles.

31.1. CONHECENDO OS VERBOS AUXILIARES  「れる」  E  「られる」

Como vimos na lição 12, os verbos auxiliares  「じょどうし」  (助動詞) são verbos que não funcionam como verbos independentes e que são geralmente chamados simplesmente de terminações verbais ou formas conjugadas. Nesta lição, abordaremos os verbos auxiliares  「れる」  e 「られる」. Tradicionalmente se ensina  (mais detalhes no tópico 6 da lição 33) que eles são anexados à base Mizenkei dos verbos regulares, sendo que 「れる」  é usado quando a última sílaba da base Mizenkei do verbo em questão terminar com um fonema da coluna do A. Caso contrário,  「られる」  deve ser utilizado:

ANEXAÇÃO DOS VERBOS AUXILIARES  「れる」  e 「られる」  (VERBOS REGULARES):

 「れる」  DEVE SER USADO SOMENTE SE A BASE MIZENKEI DO VERBO TERMINAR COM FONEMA DA COLUNA DO A. NOS DEMAIS CASOS, USAR 「られる」  .

Vamos ver a aplicação prática da regra:

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Com relação aos verbos irregulares 「来る」  e 「する」  , como as bases Mizenkei são  「こ」  e 「せ」  respectivamente, devemos anexar  「られる」  :

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Note que colocamos (??) na construção  「せられる」  , pois quando 「られる」   é unido à  「する」  temos  される   .Vamos explicar: primeiramente, os verbos auxiliares  「れる」  e 「られる」  se originaram dos auxiliares clássicos 「る」  e 「らる」  respectivamente, que eram conjugados no padrão Shimo-Nidan. Vamos observar as suas bases somente para entendermos sua evolução:

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Como mencionamos na lição 12, a maioria dos verbos que eram Shimo-Nidan no Japonês Clássico sofreu a alteração [Base Ren’youkei] +  「る」  , fato que deu origem às formas atuais. Com relação ao verbo  「する」  espera-se que quando anexado a  「られる」  , sua forma seja  「せられる」  , entretanto, é 「される . Isso por que a forma   「される」  originou-se da forma clássica  「せらる」  , na qual os fonemas  「せ」  e  「ら」  eram contraídos para   「さ」  , ficando  「さる」  . No japonês moderno  「らる」  deu lugar a  「られる」  , e a regra de contração continua a mesma, isto é, o que seria  「せられる」  torna-se simplesmente  「される」  .

Agora que sabemos a origem de 「れる」  e 「られる」  , vamos conhecer suas bases. Ambos são conjugados no padrão Shimo-Ichidan:

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Quanto à utilização de ambos os verbos, eles são muito úteis, podendo ser usados para quatro formas:

Potencial;

Passiva;

Honorífica;

Espontânea.

Vejamos cada uma dessas formas nos tópicos seguintes.

31.2. A FORMA POTENCIAL

A forma potencial [ 「かのう」  (可能)] é usada para expressar que existe a possibilidade de se fazer uma ação. Em português normalmente se usa uma locução verbal como “pode fazer X”, ou “ser capaz de X”, e em japonês basta anexar 「れる」  ou 「られる」  ao verbo. Observe:

漢字は書かれる?= Falando de Kanji, (você) é capaz de escrever?

寿司は食べられる。= Falando de sushi, (eu) posso comer.  

Obviamente, como  「れる」  e 「られる」  são conjugados no padrão Shimo-Ichidan, basta aplicar as regras que você já conhece para obtermos outras formas:

漢字は書かれ?= Falando de Kanji, (você) foi capaz de escrever?

寿司は食べられない。= Falando de sushi, (eu) não posso comer. 

A forma potencial do verbo  「する」   (significando “fazer”) é uma das exceções à regra e não é  「される」  , mas sim  「できる」(出来る):

日本語は勉強できる。Falando da língua japonesa, (eu) posso estudar.

Percebeu que para os verbos Go-dan, como todas as bases Mizenkei terminam na coluna do A, devemos anexar  「れる」  ? Observe:

漢字は書れる?= Falando de Kanji, (você) é capaz de escrever?

日本語は話れる。= Falando da língua japonesa, (eu) posso falar.

Contudo, o processo de anexação de  「れる」  aos verbos Go-dan para se obter a forma potencial (e somente neste caso), tornou-se arcaica, embora seja considerada formal. Atualmente, usa-se o verbo suplementar  「える」  (得る) para a base Ren’youkei do verbo em questão. Esta versão é chamada de “forma potencial curta”.  Note que quando ocorre a junção dos verbos, algumas mudanças sonoras ocorrem e estas se tornaram padrão:

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Se considerarmos o último fonema da base Ren’youkei, podemos dizer que a contração é o fonema da coluna E na linha em que pertence a terminação da base, acrescido de  「る」  . Por exemplo, a base Ren’youkei de  「話す」  é  「話し」  ; o fonema  「し」  pertence à linha do SA, cujo respectivo fonema na coluna do E é  「せ」  . Portanto, a forma potencial será  「話せ」  +  「る」  . Observe os exemplos:

漢字は書ける?= Falando de Kanji, (você) é capaz de escrever?

日本語は話せる。= Falando da língua japonesa, (eu) posso falar.

彼女には教師になれる。= Ela pode se tornar professora.

Não confunda a forma potencial do verbo 「なる」 com o verbo 「なれる」(慣れる), que significa “acostumar-se”:

日本に慣れた。= (Eu) me acostumei com o Japão.

Já que citamos a forma potencial curta para os verbos Go-dan, é oportuno mencionar que existe a forma curta para os verbos do padrão Ichidan, que vem sendo usada pelos jovens. Para tanto, basta retirar o fonema  「ら」  de  「られる」  :

寿司は食べれる。→  寿司は食べれる。= Falando de sushi, (eu) posso comer. 

Este fenômeno é conhecido como  「らぬきことば」  (ら抜き言葉), literalmente “palavra sem o  「ら」  ”. Entretanto, ao contrário da forma curta para os verbos Go-dan, esta forma para os verbos Ichidan é considerada gíria. Portanto, não a use de modo desenfreado.

Ainda sobre as formas potenciais curtas, provavelmente elas se orginaram devido à ambiguidade que as formas convecionais com  「れる」  e 「られる」  podem causar, já que, como vimos no primeiro tópico desta lição, eles podem transmitir quatro significados.

Com o acréscimo dos verbos  「れる」  ,  「られる」  ou  「える」  para construir a forma potencial, a composição torna-se um verbo intransitivo. Isso nos levaria a imaginar que não seja possível usar a partícula  「を」  , mas esse não é o caso. Embora o uso de  「を」  não seja o padrão, tal prática vem se tornando aceitável na língua moderna. Há discussão com relação a diferença entre os dois usos, mas no geral, com o uso da partícula  「が」  se enfatiza o objeto do verbo, enquanto que com a partícula  「を」  se destaca a ação inteira. Observe:

たもつは日本語話せる。= Falando de Tamotsu, (ele) sabe falar japonês (em oposição a algum outro idioma).

たもつは日本語話せる。= Falando de Tamotsu, (ele) sabe falar japonês (em oposição a alguma outra ação).

Vamos nos atentar agora ao verbo  「ある」  . Você pode dizer que algo tem a possibilidade de existir, combinando  「ある」   e  「得る」  (sem contraí-los) para produzir  「あり得る」  . Esta composição verbal pode ser lida tanto 「ありうる」   como  「ありえる」  no infinitivo. Em outras formas como  「ありえない」  、 「ありえた」  、e  「ありえなかった」  , deve-se considerar a pronúncia com 「え」  :

彼が寝坊したこともありうる。= É também possível que ele dormiu demais (Lit. O fato em que ele dormiu demais também possivelmente exista).

それは、ありえない話だ。= Quanto a isto, é uma história impossível (Lit. Quanto a isto, é uma história que não há possibilidade de existir).

E já que estamos tratando da forma potencial de  「ある」  , é oportuno mencionar que também podemos fazer esse mesmo processo com outros verbos, ou seja, anexar  「得る」  à base Ren’youkei sem contrair. Também, aqui  「得る」  pode ser lido tanto  「うる」   como  「える」  :

こんな事、日本では起こり得ない。= Coisas como esta não podem acontecer no Japão.

Há também dois verbos  「見える」   e  「聞こえる」   que significam que algo é visível e audível, respectivamente. Quando quiser dizer que você pode ver ou ouvir alguma coisa, use esses verbos. Se, no entanto, você quiser dizer que lhe foi dada a oportunidade de ver ou ouvir alguma coisa, você deve usar a forma potencial regular:

富士山が見える。= O Monte Fuji é visível.

映画はただで見られた。= Eu pude ver o filme de graça.

久しぶりに彼の声が聞けた。= Eu fui capaz de ouvir a voz dele pela primeira vez em muito tempo.

彼が言っていることがあんまり聞こえなかった。= Eu não pude ouvir muito bem o que ele estava dizendo.

Há ainda a possibilidade de se nominalizar uma oração e dizer que tal ato ou fato é possível, usando  「できる」  :

映画をただで見るできた。= Eu pude ver o filme de graça.

映画をただで見ることできた。= Eu pude ver o filme de graça.

Outra forma exposta pelo “A Dictionary of Advanced Japanese Grammar” para indicar impossibilidade, que chamaremos apenas para fins didáticos de “Forma Potencial Duplicada” é a seguinte:

FORMA POTENCIAL DUPLICADA

[Verbo na forma não-passada] + Partícula 「に」+ [Forma potencial negativa do mesmo verbo]

Veja o exemplo:

俺は食べる食べられない。= Eu não posso comer.

Talvez a construção acima não tenha muito sentido gramaticalmente falando, mas provavelmente se explique pelo uso da língua, isto é, formas que caíram no gosto popular. Se analisarmos bem, parece carregar ênfase, como que o ato do mesmo ato é impossível.

Algo interessante a se mencionar é que a partícula dupla 「にも」 por vezes funciona de forma similar a 「でも」, porém, somente com o verbo principal na forma negativa, conforme podemos constatar no Jisho.org:

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「にも」 geralmente é usado sucedido da forma potencial de um verbo, para, então, indicar a impossibilidade de se fazer algo mesmo que se tente. Vejamos:

泳ぐにも泳げない。= (Eu) não sou capaz de nadar mesmo que tente (Lit. Mesmo se nadar, não conseguirei nadar).

Aliás, provavelmente esse 「にも」 tenha se originado da Base Ren’youkei da cópula clássica 「なり」 em conjunto com 「も」.

Outra possibilidade é usar a forma potencial com o substantivo 「よう」 (Lição 21) e o verbo 「なる」. Tecnicamente aqui se expressa a forma potencial com a leve diferença de que a ação é possível somente a partir de um dado momento, isto é, antes essa mesma ação não era possível:

バイクーに乗れるようになりました。= (Eu) sei andar de bicicleta (agora).

31.3. A FORMA PASSIVA

Você já deve ter ouvido falar sobre “voz passiva”, mas vamos relembrar: na língua portuguesa há duas vozes verbais principais: a voz ativa e voz passiva. A diferença principal é que na voz passiva, o sujeito é o paciente da ação verbal em vez de agente.  Observe o exemplo em português:

Makoto comeu o sushi. (voz ativa)

O sushi foi comido por Makoto. (voz passiva)

Na segunda oração, observe como o sujeito da voz passiva tem o mesmo papel em relação ao verbo principal que o objeto da voz ativa, ou seja, “o sushi” é o objeto na voz ativa e passa a ser o sujeito na voz passiva e “Makoto”, o agente da passiva.

Agora, indo para a língua japonesa, a voz passiva é formada pela anexação de  「れる」  e 「られる」  , e os conceitos expostos nos ajudarão a entender seu funcionamento, já que funciona praticamente da mesma forma que o português, exceto pelo fato de existirem dois tipos de voz passiva: a passiva simples e a passiva adversativa:

I. Passiva simples: funciona da mesma forma que na língua portuguesa e é frequentemente utilizada em artigos:

まことが寿司を食べた。= Makoto comeu o sushi. (voz ativa)

すしまこと食べられた。= O sushi foi comido por Makoto. (voz passiva)

O agente da passiva (Makoto) sempre será marcado pela partícula 「に」  . Na voz passiva direta, o sujeito ou tópico (no caso “o sushi”, marcado pela partícula  「が」  ) sofre a ação diretamente (foi comido). Evidentemente, não é necessário que sempre haja explicitamente um agente da passiva:

すし食べられた。= O sushi foi comido.

Há uma construção cobrada geralmente no nível 1 do JLPT que se trata da forma passiva do verbo 「見る」→ 「見られる」usada com a partícula 「と」. Ela é usada quando se quer expressar sensações sobre algo, podendo ser traduzido como “é visto como...”, “é esperado que...”:

この地域では、大きい地震が来る見られている。= É esperado que esta área tenha um grande terremoto no futuro.

Outro verbo que pode aparecer certa frequência da mesma forma é o verbo “considerar”, isto é, 「考える」 → 「と考えられる」:

これは当然と考えられる。= Isto é considerado natural.

II. Passiva adversativa: este tipo de passiva não existe em português e de início pode ser de difícil compreensão. Neste tipo de passiva, o sujeito não é objeto e nem agente, mas é afetado indiretamente pela ação. Em japonês, esse tipo de passiva traz uma conotação negativa, indicando que a pessoa foi prejudicada de alguma forma pela ação. Observe os exemplos:

私は姉にケーキを食べられた。= Quanto a mim, o bolo foi comido por minha irmã (e isso me prejudicou).

Note que o verbo não afeta diretamente o sujeito, ou seja, a irmã não comeu a pessoa, e sim o bolo. A passiva adversativa dá o sentido que a pessoa considera determinado ato uma adversidade, ou seja, algo que a prejudica. Observe o próximo exemplo:

私は雨に降られた。= Quanto a mim, choveu.

A tradução direta para o português não faz muito sentido.  A frase poderia ser escrita na voz ativa em japonês, mas na voz passiva ela traz o sentido que essa chuva foi um incômodo de alguma forma, uma adversidade.

31.4. A FORMA HONORÍFICA

Os verbos auxiliares  「れる」  e 「られる」  podem ser usados para tornar os verbos ainda mais polidos do que quando usamos 「ます」  . Em japonês, uma oração é geralmente mais educada quando é menos direta. Por exemplo, é mais educado se referir a alguém pelo seu nome e não pelo pronome direto "você". Também é mais educado fazer uma pergunta na negativa do que na positiva (por exemplo, 「しますか?」   vs.  「しませんか?」  ). Partindo deste princípio, usar a forma passiva torna a sentença menos direta, porque o sujeito não executa diretamente a ação. Isso fará você soar mais polido.

No geral, será entendido a partir do contexto da frase quando essa forma deve ser interpretada como sendo a forma passiva e quando deve ser considerado como a forma respeitosa. Observe que, no exemplo seguinte, o verbo deve ser entendido como honorífico e não passiva:

先生は今日の会議に来られない。= O professor não virá à reunião de hoje.

Este uso está bem estabelecido, sendo comum na língua moderna, tanto na formal como na coloquial.

31.5. A FORMA ESPONTÂNEA

A forma espontânea [ 「じはつ」  (自発)] em japonês transmite o sentido de uma ação que não ocorre de maneira involuntária, mas sim natural e espontânea sob uma condição apropriada. Observe o exemplo:

最近、 冬の気配が感じられる。= Nestes dias, eu sinto a atmosfera do inverno.

A oração acima exprime que dada determinada condição (nestes dias) o sentir a atmosfera do inverno é algo que acontece naturalmente ao sujeito.

31.6. OS VERBOS AUXILIARES ANTIGOS 「ゆ」E 「らゆ」

No Período Nara (710 d.C. – 794 d.C.), os verbos auxiliares 「」e 「らゆ」possuíam as mesmas funções dos modernos 「れる」e 「られる」. Vejamos quais eram suas bases:

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Conhecer as bases desses dois verbos auxiliares antigos é importante, porque nos auxilia no entendimento da formação e evolução dos verbos, como vimos nas lições 12 e 17. Por exemplo, 「聞こ」, pertencente ao padrão Shimo-Nidan de conjugação, tem 「聞こえる」 como forma moderna, que se originou da Base Ren’youkei + 「る」.

Também, ainda é possível nos depararmos com o verbo 「みゆ」(見ゆ), que significa “ser visto” e é a versão antiga de 「見える」.

Outra construção que podemos ver por aí é 「いわゆる」(所謂). Apesar dos Kanjis usados atualmente para sua escrita, note que「いわゆる」 se origina da Base Mizenkei do verbo 「言う」 seguida do verbo auxiliar 「ゆ」, em sua base Rentaikei. Como 「ゆ」 funcionava de forma semelhante a 「れる」 e 「られる」, 「いわゆる」 é semelhante ao moderno 「いわれる」, isto é, “ser chamado ou conhecido”:

それが効果的と言われている。= É dito que isso é efetivo (ou “Isso é conhecido como efetivo”).

Como se trata da Base Rentaikei, 「いわゆる」 normalmente aparecerá modificando outro elemento:

彼はいわゆる本の虫です。= Ele é conhecido como um rato de biblioteca.

彼はいわゆる音楽的天才である。= Ele é o que chamamos de gênio musical.

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 Fontes: 

Acesse as referências bibliográficas aqui.